quarta-feira, 17 de abril de 2013

Responsabilização um ato pedagógico

Era uma vez uma mamãe e um papai em uma sala, quando de repente Joãozinho fez bobagem de criança! Tão logo a bobagem aconteceu, papai e mamãe recriminaram o seu filho dizendo que ele tinha seus nove anos e que já deveria ser mais responsável.

E você, sabe de alguma história assim? Já viveu isso quando criança? Já fez isso com alguma criança?

Com o desenvolvimento físico da criança com o passar dos anos (crescimento dos ossos, crescimento e fortalecimento do tecido muscular) acreditou-se (e ainda acreditamos) que a responsabilização do ser humano fosse algo in natura, ou seja, natural do ser humano. Como o processo de sucção do bebê. Ninguém ensinou o bebê que ele precisava sugar para tomar o leite materno, certo? A mesma coisa se olharmos o processo de salivação de um cachorro, ou seja, é natural do cachorro que ele salive quando veja um belo prato apetitoso em sua frente!

Mas voltando ao tema, a responsabilização não é igual a sucção ou igual ao desenvolvimento físico. Responsabilizar é um ato pedagógico. Responsabilizar precisa do outro, de alguém para a construção desse processo, responsabilização é um ato educativo e não natural.  

Neste sentido você ao ler isso, pode pensar: Pô legal! Isso é papel da família! E vou escrever dizendo que isso é papel da família também! Mas não só dela.

A responsabilização, não requer punições ou castigo. Quando punimos ou castigamos devido ao ato errado de uma criança ou adolescente, queremos fazer uma coisa que chamamos de “conducionismo através da dor”. Queremos que a criança e o adolescente aprenda por meio da dor física ou psicológica que ela errou, e assim automaticamente  queremos que ela aprenda pelo seu erro, e consequentemente  sentindo a dor ela não faça mais ato errado. A técnica é boa certo? Ela é simples, fácil, e que prevê o resultado.
Pois bem, preciso alertar à você  sobre dois pontos: que essa técnica não deu certo e o segundo: tenho a convicção que não dará mais para ser usada no futuro. Explico

A técnica não da certo, pois queremos que as crianças e adolescentes não tenham medo através do conducionismo através da dor. Você gosta de sentir medo, de sentir-se violado, de sentir-se desrespeitado? Tenho certeza que a sua resposta foi não.

Precisamos ter uma geração de criança e de adolescentes que saibam respeitar o adulto, a sociedade e a sua própria vida, através da responsabilização. Já tivemos outras gerações que tinham disciplina através do medo, e isso não é legal. Sentindo medo a criança para o ato errado que fez, mas não reflete sobre o porque do ato. Quando usamos a conducionismo através da dor negamos as crianças e adolescentes o ato da escolha, viram coadjuvantes do processo.

O segundo ponto que mencionei, é que o método do conducionismo através da dor não dará certo, porque esta geração de crianças e adolescentes tem um amplo acesso a informação. Veja, escrevi informação e não conhecimento. Mas isso já faz uma grande diferença, pois com mais facilidades de informação, mais a criança e o adolescente se potencializa, mais oportunidades de busca pode ocorrer e consequentemente mais oportunidades de erros também. A informação esta fácil, as tecnologias ajudam e várias oportunidades aparecem, boas ou ruins. Essa geração e as outras que virão, estão percebendo que usar a intolerância com elas não vai resolver e elas irão negar.

 Mas voltando a responsabilização, como ela ocorre? Para responsabilizar é preciso que a referência (responsável, professor, amigo... ) mostre as opções das consequências dos atos que a criança e que o adolescente possa a vir ou não a fazer. Mostrar não significa dizer não, mostrar significa refletir junto.

Essa reflexão deve ser feita com calma, com tranquilidade passando segurança para a pessoa. Não de cima para baixo, impondo. Lembre-se a reflexão é no mesmo nível. Quem responsabiliza passa segurança, ok. Podemos usar aqui na reflexão a simbologia das portas ( se você escolher a porta A a consequência é esta.. se escolher a porta B a consequência é essa...)

Após ser refletido o ato, a escolha do ato é da pessoa que foi responsabilizada. Caberá quem esta responsabilizando observar a escolha feita pela pessoa. Por isso responsabilizar requer observação.
Geralmente crianças e até adolescentes na busca de limites, testam a porta (usando a simbologia) mais desagradável, em um termo podemos dizer que elas “pagam pra ver”, pois é comum testar nossos limites, certo? 
Por tanto, cabe a quem esta responsabilizando:
a-      Não levar para o lado pessoal
b-      Manter-se calmo
c-       Cumprir a consequência que determinou, quando mostrou os caminhos (portas)
d-      Manter-se forte (não estamos falando de violência) na postura, pois conflitos podem existir (choro, birra, rebeldia, enfrentamento, etc)
e-       Refazer a reflexão sobre o porque do ato (escolha da porta) e relembrar a consequência

Não levar para o lado pessoal e manter-se calmo
Quem responsabiliza, precisa ter ou treinar sua habilidade intrapessoal ou seja se conhecer mais para estar seguro. Como geralmente crianças e adolescentes “pagam pra ver” não leve isso como um “esta me testando” Na verdade elas não estão testando você, mas sim o limite refletido com elas, no caso as regras, ou seja, a consequência da porta. Se você que esta responsabilizando começa a ficar nervoso ou nervosa (tom de voz aumenta, olhar com recriminação, falar muito não...) você passa para quem esta sendo responsabilizado que não esta seguro de sí com a instrução dada ou com  a própria consequência estabelecida.


Cumprir a consequência que determinou
O maior erro da responsabilização, não esta na pessoa responsabilizada que faz as opções para testar o limite (porta errada), mas de quem esta responsabilizando. Vejamos quais os erros comuns:

(A) na hora de colocar a consequência, fala por falar, sem ser algo planejado

(B) traz a consequência mais como um castigo, do que uma responsabilização

(C) não cumpre a consequência que ele mesmo colocou. Exemplo1(na família): Filho, se você chorar , nós vamos embora do mercado. E quando a criança chora, não vai embora. Pergunta:  Quem errou? A criança ou o responsável que não cumpriu a sua palavra?

Exemplo2 (na escola): Vamos trabalhar o texto e precisamos da concentração do grupo, peço que não exista brincadeiras no momento, após 10 minutos liberamos um pouco de conversa, certo? Se caso houver brincadeiras o aluno ou a aluno perde o direito de ir no banheiro neste mês. O aluno faz a brincadeira. Quatro dias depois ele vai no banheiro na aula do professor. Pergunta:  Quem errou? O aluno que fez a brincadeira, ou o professor que liberou ele de ir no banheiro antes de o mês acabar?

Manter-se forte
Responsabilizar é dar limite. E ninguém gosta de ficar limitado as ações ou a objetos, certo? Mas sabemos que limites é importante! Neste sentido, o conflito pode ocorrer entre quem responsabiliza e quem é responsabilizado. Crianças choram, berram, se jogam no chão, falam. Adolescentes enfrentam, ameaçam, murmuram...

Cabe a você que esta responsabilizando entender que isto “faz parte do jogo” e compreender que isto é natural. Seria ótimo que uma criança ou adolescente dissesse: obrigado por me responsabilizar, isto afinal é um ato de carinho, de amor! Perfeito não é?

Manter-se forte não é brigar, manter-se forte é levar a sua postura e palavra até o fim, independente se este chora, briga, etc. lembre-se: tens um objetivo a cumprir: manter sua palavra, afinal a escolha foi de quem escolheu a “porta” errada. Por isso o seu cuidado de ter uma consequência na qual você conseguirá cumprir.

Refazer a reflexão sobre o porque do ato (escolha da porta) e relembrar a consequência
Após a criança e o adolescente se acalmar (pois você estará calmo ou se controlando para manter-se) refletir o porque da consequência, relembrando a escolha da pessoa, e solicitando se a pessoa não quer mudar sua opção (não impor outra opção). Se a criança ou adolescente irá escolher a porta certa ou não isso será uma opção dele.

Veja que aqui estamos falando de etapas de um processo:
Responsabilizador:
Mostrar caminhos e as consequências de cada caminho.

Como:
Planejando as consequências
Dialogando com calma sobre elas
Cumprindo a consequência se houver necessidade
Refletindo a consequência com o responsabilizado e oportunizando que o mesmo 


Responsabilizado:
Escolhe os caminhos a percorrer, caminho este apresentado pelo responsabilizador.
Como:
Escolhendo a(s) opção (opções) correta(s) ou não
Testando limite
 mudando seu caminho se escolheu o errado após ter a experiência da consequência do erro
















                   


Resumindo, quando uma criança ou um adolescente erra e não foi mostrados caminhos para o acerto e consequentemente essa criança recebe uma consequência não estamos responsabilizando, por mais que houve o erro dessa pessoa. 
   
Podemos ter uma pergunta: Se essa criança ou adolescente erra, sem mostrar as consequências para elas, o que fazer?  A resposta: mostrar o erro com calma, dialogando com essa pessoa para que ela não erre de novo, sem consequências, afinal crianças e adolescentes estão no direito de errar, e o erro ajuda a melhorar e a construir!

Para finalizar acreditamos que a responsabilização ajuda a diminuir os conflitos na família, na escola e no trabalho. Acreditamos que o ato de responsabilizar deve ser feito cotidianamente, melhorando a ação de quem responsabiliza, sendo assim um ato diário e aperfeiçoado.

Como mencionamos, aprendemos recebendo punições, esta na hora de mudar nosso ato, para uma geração que ainda não conhece seus direitos legais, mas que já sente que a intolerância não é o melhor caminho!

Neste sentido, responsabilizar se torna um ato de amor, um ato solidário, um ato sublime em um mundo consumista e individualista. Responsabilizar é olhar para frente, é ato profético.

Responsabilizar é distanciar-se na birra, no choro, na rebeldia de quem este limitado, sabendo que aquela limitação é para o bem, por mais que este outro estando em processo de desenvolvimento, não consegue refletir o melhor caminho.


Guilherme Cechelero
@guicechelero


Sociólogo e educador 

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