Era uma vez uma mamãe e um papai
em uma sala, quando de repente Joãozinho fez bobagem de criança! Tão logo a bobagem
aconteceu, papai e mamãe recriminaram o seu filho dizendo que ele tinha seus
nove anos e que já deveria ser mais responsável.
E você, sabe de alguma história
assim? Já viveu isso quando criança? Já fez isso com alguma criança?
Com o desenvolvimento físico da
criança com o passar dos anos (crescimento dos ossos, crescimento e
fortalecimento do tecido muscular) acreditou-se (e ainda acreditamos) que a
responsabilização do ser humano fosse algo in natura, ou seja,
natural do ser humano. Como o processo de sucção do bebê. Ninguém ensinou o
bebê que ele precisava sugar para tomar o leite materno, certo? A mesma coisa
se olharmos o processo de salivação de um cachorro, ou seja, é natural do
cachorro que ele salive quando veja um belo prato apetitoso em sua frente!
Mas voltando ao tema, a
responsabilização não é igual a sucção ou igual ao desenvolvimento físico. Responsabilizar é um ato pedagógico. Responsabilizar
precisa do outro, de alguém para a construção desse processo, responsabilização
é um ato educativo e não natural.
Neste sentido você ao ler isso,
pode pensar: Pô legal! Isso é papel da família! E vou escrever dizendo que isso
é papel da família também! Mas não só dela.
A responsabilização, não requer
punições ou castigo. Quando punimos ou castigamos devido ao ato errado de uma
criança ou adolescente, queremos fazer uma coisa que chamamos de “conducionismo através da dor”.
Queremos que a criança e o adolescente aprenda por meio da dor física ou psicológica
que ela errou, e assim automaticamente
queremos que ela aprenda pelo seu erro, e consequentemente sentindo a dor ela não faça mais ato errado. A
técnica é boa certo? Ela é simples, fácil, e que prevê o resultado.
Pois bem, preciso alertar à você sobre dois pontos: que essa técnica não deu
certo e o segundo: tenho a convicção que não dará mais para ser usada no
futuro. Explico
A técnica não da certo, pois
queremos que as crianças e adolescentes não tenham medo através do conducionismo através da dor. Você
gosta de sentir medo, de sentir-se violado, de sentir-se desrespeitado? Tenho
certeza que a sua resposta foi não.
Precisamos ter uma geração de
criança e de adolescentes que saibam respeitar o adulto, a sociedade e a sua
própria vida, através da responsabilização. Já tivemos outras gerações que
tinham disciplina através do medo, e isso não é legal. Sentindo medo a criança
para o ato errado que fez, mas não reflete sobre o porque do ato. Quando usamos
a conducionismo através da dor
negamos as crianças e adolescentes o ato da escolha, viram coadjuvantes do
processo.
O segundo ponto que mencionei, é
que o método do conducionismo através da dor não dará certo, porque esta
geração de crianças e adolescentes tem um amplo acesso a informação. Veja,
escrevi informação e não conhecimento. Mas isso já faz uma grande diferença,
pois com mais facilidades de informação, mais a criança e o adolescente se
potencializa, mais oportunidades de busca pode ocorrer e consequentemente mais
oportunidades de erros também. A informação esta fácil, as tecnologias ajudam e
várias oportunidades aparecem, boas ou ruins. Essa geração e as outras que
virão, estão percebendo que usar a intolerância com elas não vai resolver e
elas irão negar.
Mas voltando a responsabilização, como ela
ocorre? Para responsabilizar é preciso que a referência (responsável,
professor, amigo... ) mostre as opções
das consequências dos atos que a criança e que o adolescente possa a vir ou
não a fazer. Mostrar não significa dizer não, mostrar significa refletir junto.
Essa reflexão deve ser feita com
calma, com tranquilidade passando segurança para a pessoa. Não de cima para
baixo, impondo. Lembre-se a reflexão é no mesmo nível. Quem responsabiliza
passa segurança, ok. Podemos usar aqui na reflexão a simbologia das portas ( se
você escolher a porta A a consequência é esta.. se escolher a porta B a
consequência é essa...)
Após ser refletido o ato, a escolha
do ato é da pessoa que foi responsabilizada. Caberá quem esta responsabilizando
observar a escolha feita pela pessoa. Por isso responsabilizar requer
observação.
Geralmente crianças e até
adolescentes na busca de limites, testam a porta (usando a simbologia) mais
desagradável, em um termo podemos dizer que elas “pagam pra ver”, pois é comum
testar nossos limites, certo?
Por tanto, cabe a quem esta responsabilizando:
a- Não
levar para o lado pessoal
b- Manter-se
calmo
c- Cumprir
a consequência que determinou, quando mostrou os caminhos (portas)
d- Manter-se
forte (não estamos falando de violência) na postura, pois conflitos podem
existir (choro, birra, rebeldia, enfrentamento, etc)
e- Refazer a reflexão sobre o porque do ato
(escolha da porta) e relembrar a consequência
Não levar para o lado pessoal
e manter-se calmo
Quem responsabiliza, precisa ter
ou treinar sua habilidade intrapessoal ou seja se conhecer mais para estar
seguro. Como geralmente crianças e adolescentes “pagam pra ver” não leve isso
como um “esta me testando” Na verdade elas não estão testando você, mas sim o
limite refletido com elas, no caso as regras, ou seja, a consequência da porta.
Se você que esta responsabilizando começa a ficar nervoso ou nervosa (tom de
voz aumenta, olhar com recriminação, falar muito não...) você passa para quem
esta sendo responsabilizado que não esta seguro de sí com a instrução dada ou
com a própria consequência estabelecida.
Cumprir a consequência que
determinou
O maior erro da
responsabilização, não esta na pessoa responsabilizada que faz as opções para
testar o limite (porta errada), mas de quem esta responsabilizando. Vejamos
quais os erros comuns:
(A) na hora de colocar a
consequência, fala por falar, sem ser algo planejado
(B) traz a consequência mais como
um castigo, do que uma responsabilização
(C) não cumpre a consequência que ele mesmo
colocou. Exemplo1(na família): Filho, se você chorar , nós vamos embora do
mercado. E quando a criança chora, não vai embora. Pergunta: Quem errou? A criança
ou o responsável que não cumpriu a sua palavra?
Exemplo2 (na escola): Vamos
trabalhar o texto e precisamos da concentração do grupo, peço que não exista
brincadeiras no momento, após 10 minutos liberamos um pouco de conversa, certo?
Se caso houver brincadeiras o aluno ou a aluno perde o direito de ir no
banheiro neste mês. O aluno faz a brincadeira. Quatro dias depois ele vai no
banheiro na aula do professor. Pergunta:
Quem errou? O aluno que fez a
brincadeira, ou o professor que liberou ele de ir no banheiro antes de o mês
acabar?
Manter-se forte
Responsabilizar é dar limite. E
ninguém gosta de ficar limitado as ações ou a objetos, certo? Mas sabemos que
limites é importante! Neste sentido, o conflito pode ocorrer entre quem
responsabiliza e quem é responsabilizado. Crianças choram, berram, se jogam no
chão, falam. Adolescentes enfrentam, ameaçam, murmuram...
Cabe a você que esta
responsabilizando entender que isto “faz parte do jogo” e compreender que isto
é natural. Seria ótimo que uma criança ou adolescente dissesse: obrigado por me
responsabilizar, isto afinal é um ato de carinho, de amor! Perfeito não é?
Manter-se forte não é brigar, manter-se
forte é levar a sua postura e palavra até o fim, independente se este chora,
briga, etc. lembre-se: tens um objetivo a cumprir: manter sua palavra, afinal a
escolha foi de quem escolheu a “porta” errada. Por isso o seu cuidado de ter
uma consequência na qual você conseguirá cumprir.
Refazer a reflexão sobre o porque do ato (escolha da
porta) e relembrar a consequência
Após a criança e o adolescente se
acalmar (pois você estará calmo ou se controlando para manter-se) refletir o
porque da consequência, relembrando a escolha da pessoa, e solicitando se a
pessoa não quer mudar sua opção (não impor outra opção). Se a criança ou
adolescente irá escolher a porta certa ou não isso será uma opção dele.
Veja que aqui estamos falando de
etapas de um processo:
Responsabilizador:
Mostrar caminhos e as
consequências de cada caminho.
Como:
Planejando as
consequências
Dialogando com calma
sobre elas
Cumprindo a
consequência se houver necessidade
Refletindo a consequência
com o responsabilizado e oportunizando que o mesmo
Responsabilizado:
Escolhe os caminhos a
percorrer, caminho este apresentado pelo responsabilizador.
Como:
Escolhendo a(s) opção
(opções) correta(s) ou não
Testando limite
mudando seu caminho se escolheu o errado após ter a experiência da consequência do erro
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Resumindo,
quando uma criança ou um adolescente erra e não foi mostrados caminhos para o
acerto e consequentemente essa criança recebe uma consequência não estamos
responsabilizando, por mais que houve o erro dessa pessoa.
Podemos ter uma
pergunta: Se essa criança ou adolescente erra, sem mostrar as consequências
para elas, o que fazer? A resposta:
mostrar o erro com calma, dialogando com essa pessoa para que ela não erre de
novo, sem consequências, afinal crianças e adolescentes estão no direito de
errar, e o erro ajuda a melhorar e a construir!
Para finalizar
acreditamos que a responsabilização ajuda a diminuir os conflitos na família,
na escola e no trabalho. Acreditamos que o ato de responsabilizar deve ser
feito cotidianamente, melhorando a ação de quem responsabiliza, sendo assim um
ato diário e aperfeiçoado.
Como
mencionamos, aprendemos recebendo punições, esta na hora de mudar nosso ato,
para uma geração que ainda não conhece seus direitos legais, mas que já sente
que a intolerância não é o melhor caminho!
Neste sentido,
responsabilizar se torna um ato de amor, um ato solidário, um ato sublime em um
mundo consumista e individualista. Responsabilizar é olhar para frente, é ato
profético.
Responsabilizar
é distanciar-se na birra, no choro, na rebeldia de quem este limitado, sabendo
que aquela limitação é para o bem, por mais que este outro estando em processo
de desenvolvimento, não consegue refletir o melhor caminho.
Guilherme Cechelero
@guicechelero
Sociólogo
e educador
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