sexta-feira, 17 de junho de 2011

A importância de espaços para o diálogo com pais ou responsável

Cada vez que estudo, reflito ou interajo com pais ou professores percebo que um dos grandes desafios ao trabalhar com a criança ou com o adolescente é pontuar, ou melhor, equilibrar algo que podemos chamar de “limites”
Em uma sociedade onde temos cada vez mais o acesso da informação devido a tecnologias, e mais, vimos a “falta de limites” dos adultos com o dinheiro público, com espaços públicos, com serviços públicos, basta a pergunta: como trabalhar limites com os adolescentes e crianças?
Obvio que o desafio da educação ainda mais nos dias de hoje se tornou difícil, afinal de contas “tempo é dinheiro” e se olharmos o sistema em que vivemos, onde cultuamos o “pseudo deus” chamado mercado, fica mais difícil ainda educador os filhos, os alunos de hoje em dia. Esse argumento realmente hoje é válido, mas se olharmos estudos e a própria história da educação de nossas crianças, perceberemos que a educação de crianças por exemplo, em uma outra época, sem a competição dos dias de hoje, também não era feita como deveria ser. O olhar na história para a infância mostrava-se que a infância era vista de forma negativa. Segundo Weber, L.N.D, Viezzer, P., & Brandenburg, O.:

 “A imagem da infância por muitos séculos, foi aquela expressa por Santo Agostinho (354-430 d.C), que afirmava não existir inocência infantil. Para ele, a criança trazia o pecado original desde o ventre da sua mãe, e assim, representava a condenação da humanidade para o mal”

O que pretendo com a referência acima, é primeiro desmistificar que a falta de tempo, ou a falta do olhar mais educativos dos adultos para a criança ou para os adolescentes, é efeito de somente de agora. A ausência de carinho, atenção e olhar educativo para a criança e para o adolescente esta presente na história da humanidade. Dessa forma a prática  de como vamos educar a criança passa muitas vezes pela agressão, seja ela física, psicológica ou moral. Acredita-se que as crianças acabam sendo um produto do adulto, e não percebemos que a criança é uma pessoa. Em uma pesquisa realizada em Curitiba descrevendo o perfil das denúncias através do programa SOS Criança com registro de vítimas de violência entre 0 a 18 anos de idade, percebeu-se que 51.0% das agressões contra criança e contra adolescentes era agressões físicas, sedo que 34,4% eram pro negligência familiar.
Podemos assim, observar a princípios dois pontos. O primeiro a falta de diálogo e de paciência dos pais ou responsável para a criança e adolescente. E o segundo a cultura da violência presente, sendo inclusive legitimada como “pedagógica”. Nos diversos encontros que faço com os pais, o que percebo nas conversas é a falta de paciência dos mesmos, quando seus filhos, choram, berram, respondem, ou mexem em objetos. Vários pais, ficam sem ação, ou mais se omitem através da birra da criança, sendo assim coordenados pelas mesmas. Outro ponto, é uma vontade enorme que os pais ou responsáveis tem em acertar na educação dos seus filhos, ou seja existe a vontade do acerto. Nessa hora percebo a falta de políticas públicas na área familiar. Vejo ainda isso como um grande desafio para nosso país. Primeiro, moradias e áreas públicas para a convivência familiar e comunitária, segundo o trabalho para o fortalecimento de vínculos familiares conforme se encontra na Tipificação do SUAS, documento este de 2009. O problema começa quando não debatemos, refletimos dialogamos e não fiscalizamos ou cobramos maiores investimos na área social. Há um clamor geral da população para investimento na segurança pública por exemplo, seja por mais policiais na rua, mais veículos, mais presídios, inclusive até guarda municipal armada. Mas não temos ainda um clamor geral, para mais assistentes sociais, com formação periódicas à elas, mais pedagogos(as), mais educadores populares, enfim, uma política de qualidade com investimentos públicos para trabalho junto a famílias. como conseqüência temos uma prática contra crianças e adolescentes vinda através dos temos e legitimada nos dias de hoje (as vezes até pela educação, ou por professores inclusive), marcada por agressões ou negligência. Segundo Weber, L.N.D, Viezzer, P., & Brandenburg, O.:

“As políticas públicas parecem ainda não se ter sensibilizado com os maus-tratos à infância. No Brasil não existem estatísticas nacionais fidedignas sobre o tema (...) estima-se que penas 20% dos casos de maus tratos sejam denunciados.(...) o pacto de silêncio paira trazendo danos à criança e suas famílias”.

Creio que ainda temos uma cultura e uma visão muito forte do olhar e da forma que tratamos crianças e adolescentes, mas se faz necessário como já citamos uma política mais forte dos vínculos familiares. Se não acontece o diálogo, a roda de conversa, a troca de experiência entre os adultos e a sua forma de educar, pior é. Obvio que o Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 9069/90 já traz em seu texto artigos importantes de praticas para evitar o desenvolvimento físico, psicológico e moral da criança e do adolescente, agora se faz necessário o espaço de construção para o cumprimento da lei.  

Referências:
Weber, L. N. D., Viezzer, A.P., Brandenburg, O. J. & Zocche, C. R. E. (2002). Famílias que
maltratam: uma tentativa de socialização pela violência. Psico-USF, 7(2), 163-173.

Weber, L.N.D., Viezzer, .P. & Brandenburg, O. (2004). O uso de palmadas e surras como prática
educativa. Estudos de Psicologia (UFRN), 9(2), 227-238.