Com o tema da
redução da maioridade penal voltando a tona na mídia brasileira, e com os
diversos desafios que envolvem a educação em nosso país, os adolescentes ficam
em destaques pelos problemas que apresentam no cotidiano.
Atualmente a
adolescência deixou de ser apenas uma passagem da criança para o mundo dos
adultos, como se pensava há anos atrás em nossa sociedade. Hoje os adolescentes
são considerados uma categoria social que merece ser estudada pelos problemas
que cometem mais principalmente pelos problemas que sofrem em sua grande
maioria.
Quando a criança
começa a entrar na adolescência, não só a questão do corpo como aumento da
massa muscular e aparecimentos dos pelos pubianos que aparecem fruto do
desenvolvimento hormonal. Há mais do que isso.
No campo
psicológico, por exemplo, o adolescente aos poucos começa a não deixar as suas
emoções aparecerem como uma criança, fechando-se e guardando suas emoções para
sí. Diminui o dialogo, não diz o que pensa e começa a fortalecer sua rede de
amizades como uma forma de conhecer o mundo e de proteger do mesmo também. Um
adolescente sozinho no meio de adultos é uma coisa, o adolescente em grupo na
frente de um adulto é outra completamente diferente. Que diga nós educadores ou
professores!
Neste
momento, o dialogo com a família começa a ficar cada vez mais difícil, pois
algo que o adolescente precisa fazer é negar sua infância. Negar sua infância é
as vezes negar sua família. Família lembra tutela, inocência. Se na infância
deste adolescente a família conseguiu dar carinho e amor, passou calma e
tranquilidade para este, na adolescência será mais fácil os momentos de tensão.
Ao contrário já podemos ter previsões do que irá acontecer na adolescência...
Se neste
momento o adolescente nega sua família (por mais que esta passou e passa amor)
e busca junto com outros adolescentes (como um grupo) conhecer o mundo, onde
entra o adulto nesta história?
Dizem que
educação vem de casa, certo? Mas na adolescência é preciso uma nova
aprendizagem, novas conexões cerebrais são perdidas e novas ligações precisam
ser feitas.
Para ficar
claro à você leitor e leitora, pensamos em uma tatuagem que uma pessoa fez na
década de 90. Será que essa tatuagem em 2013, esta do mesmo jeito? Sim ela
continua lá, na pele da pessoa, mas e as formas? O contorno do desenho? A
tinta? É necessário neste momento fazer
um reforço, ou alterar o desenho colocando outro em cima, ou seja, dar nova
roupagem a tatuagem!
Na
adolescência é a mesma coisa. Bem ou mal a criança aprende com os adultos.
Wallon dizia que a família é o grupo primário para o inicio do aprendizado, por
exemplo.
Mas é na
adolescência que novamente é preciso reforçar aspectos importantes, ou mudar,
ou transformar tais aspectos. É neste momento que é preciso ter novas
referências para os adolescentes. Não! Não estou de forma alguma negando a
importância do pai, da mãe ou do responsável direto do adolescente. Mas se faz
necessário a presença de um adulto para dar continuidade. É disso que a
adolescente precisa, de outros adultos neste momento.
Leitor, tenho
a convicção que só duas coisas podem ajudar os adolescentes hoje: trabalho em
grupo (afinal eles estão em grupo) e a referência para o grupo e para o
adolescente.
Neste texto
trago a importância da referência em pontos importantes:
Referência
não se intitula.
Um adulto
para ter conexão com o grupo ou com o adolescente, precisa esquecer o seu
título: professor, catequista, etc. Tem que ser adulto, antes de qualquer
coisa. Não precisa nem falar com gírias por exemplo. A referência só ganha o
adolescente quando demostra atenção e carinho com o mesmo. Para ser referência,
com todo o respeito, as vezes a aula, o encontro, o conteúdo ou tema, fica em
segunda opção. A primeira coisa é a “sintonia com o grupo” ou com o
adolescente. A frase que temos que ter é:
“neste
momento não sou nada, sou apenas uma pessoa querendo ajudar estes jovens”
Referência
como caminho
A pessoa não
vira referência de um dia para o outro. Em cinquenta minutos ou uma hora. Ser referência é um processo. É de
encontro a encontro em encontro de aula a aula. Por isso a cada aula é preciso
ter claro que ao pisar no espaço sagrado de educar, a referência tenha
paciência sobre seu papel.
Referência
como testemunho
O adolescente
precisa escutar da referência seu testemunho de vida. Suas experiências, sua
infância e principalmente sua adolescência. Neste ouvir a história, a referência
tem que passar a sua verdade, tem que imaginar, tem que sonhar em quanto narra
e avaliar-se enquanto protagonistas da sua história para o adolescente que
escuta. Falamos de conteúdos na escola, falamos de Jesus na catequese, mas não
falamos da gente para os jovens. Não falamos por que nos fechamos. Referência
precisa abrir-se com o adolescente ou com o grupo
Referência
na conversa individual para a responsabilização
Temos a
péssima mania de cobrar dos adolescentes na frente dos outros. ( o que é um
erro metodológico grande) A referência aos poucos tem que cobrar do adolescente
e apontar o seu erro chamando para a conversa particular. No olho a olho. Sem
berros e ameaças. Apontando caminhos, mostrando pro adolescente e refletindo
com ele, onde esta o erro e o porque do erro. Nada de: “ele esta grandinho,
sabe bem o que faz!” Não é assim que educamos...
A
responsabilização é um momento mágico, delicioso, saboroso para a referência!
Sentar no mesmo nível, falar com emoção, demostrar interesse pelo erro do
adolescente, e principalmente se preocupar e torcer para o acerto do jovem é
fundamental em uma referência.
Esporro
coletivo, e ameaças não educam ninguém, e só ajuda a ter relações mais tensas!
Referência
como monitoria
Sabe como os
adolescentes ficam perdidos?! Quando não monitoramos. Nós fazemos os encontros
semanais no mesmo horário e no mesmo dia. Damos aula, no mesmo horário e no
mesmo dia! Mas quando um adolescente recebe uma mensagem de preocupação da sua
referência?
A referência
precisa tirar tempo para monitorar o grupo ou o adolescente. Tem que estar
próximo, se não for fisicamente que seja virtualmente ou por telefonemas. Isso
é importante.
Demostrar
interesse fora dos horários e dias comuns, demostra mais do que palavras, demostra
atenção. É preciso monitorar, como um quase: “cuidado, estou de olho em você!”
Referência
na reflexão de conteúdos
Para ser
referência é preciso estar preparado. Além de monitorar, passar a sua verdade,
responsabilizar, a referência precisa trazer conteúdos. Histórias, músicas,
personagens, fatos faz parte da instrumentalização da referência. É usando os
conteúdos que posso dialogar com o adolescente, brincar, ouvi-lo e fazer a
conexões com o estado que o mesmo se encontra.
Referência como um ser de Postura
O Adolescente precisa se
emocionar com a sua referência. Este é um papel fundamental para ser
referência. Mexer com sentimentos, tocar, dizer, sonhar e se bobear chorar pela
vida do outro. Mas é importante ter a postura de um líder que demostra
caminhos. Mesmo nos momentos particulares adversos que todos temos, a
referência precisa mostrar força e equilíbrio emocional. Podemos até dizer para
os nossos adolescentes que não estamos bem, mas é necessário para o adolescente
obter da sua referência calma e principalmente a postura ética. A única coisa
que não podemos fazer é a famosa frase: “faça o que eu digo, só não faça o que
eu faço!”
Se quisermos maturidade dessa
geração, do adolescente especificamente, precisamos tomar cuidado com a nossa
postura. Eles nos observam. Observam nossas redes sociais, a nossa postura com
o outro, a nossa forma de dialogar e nossas atitudes. A grande pergunta que a
referência tem que ter é: “como será que o grupo de adolescentes me observa?”
Para terminar: referência como
opção de vida
Lendo estes pontos, chego a uma
coisa importante: referência é uma opção de vida. Por que trabalhar com
adolescentes, crianças ou com famílias excluídas? Ser referência é mais do que
um trabalho. Seria bom se as referência pudessem ganhar mais do que ganham eu
concordo! Mas infelizmente o mundo político (individualismo) e econômico
(mercado vale mais do que pessoas) não trará para a referência grandes ganhos
econômicos. Por isso que independente do grau e de onde este adulto referência
estiver, e para todos os pontos escritos acima, ser referência é sim um ato de
amor e um ato de ajuda para a vida do outro.
Em uma sala de aula trabalhamos
com vidas não com alunos. Na saúde, na assistência social, no esporte ou
cultura trabalhamos com vidas. Vidas em condição peculiar de desenvolvimento
(no caso de crianças e adolescentes).
É preciso levar isso em consideração.
É preciso levar isso no coração e na alma.
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