Quem já não ouviu ou falou algo
sobre: “Preso apanhando, lá vem os Direitos Humanos”. Em algumas oficinas ou
palestras que trabalho, algumas vezes ouço comentários negativos ou críticas
com o tema Direitos Humanos. Às vezes, parece-me que as pessoas personificam os
Direitos Humanos como uma pessoa! Sim! Como uma pessoa que fica sentadinha em
um cantinho de algum lugar e quando o opressor (no caso um ladrão por exemplo)
é oprimido a “pessoa” direitos humanos aparece do nada, para defende-lo, mas
que não fez a mesma coisa com a vítima do opressor (no caso o ladrão)!
Pois bem, acho justo então refletir
sobre o caso, afinal de contas temos alguns mitos que precisa de reflexão! A
primeira delas é por uma boa pergunta que um dia um adolescente me fez: Gui,
quem defende os direitos humanos? Minha resposta: Você é a favor da violência
contra as mulheres? Quando uma criança é jogada pelo seu pai da janela do seu
quarto pelo pai, e a mesma falece isso te indigna? Se um dia você estiver para
atravessar uma rua, e ver uma pessoa atropelada próximo de você, o que você
faz? A- Atravessa a rua B- vai tentar ajudar a pessoa, vendo se a mesma precisa
de algo?
Pois bem, quem defende os
direitos humanos, retorno a pergunta?
Eis um ponto importante sobre os
direitos humanos! De certa forma, todos nós defendemos tais direitos, uns mais
outros menos, mas todos nós em algum momento defendemos tais direitos.
Falar de direitos humanos ou defender
parece ação de pessoas desocupadas ou baderneiras! Ora, falar em direitos humanos
é acreditar que a economia de um país é extremamente importante, mas que acima
disso esta a pessoa, enfim a sociedade.
Outro ponto que destorce nossa
relação com o assunto esta na associação dos Direitos Humanos com a defesa de
pessoas presas. Esta associação veio principalmente com o episódio da Casa de
Detenção do Carandiru em 1992 quando houve o conhecido “Massacre do Carandiru”
onde tivemos a morte (segundo números oficiais) de 111 detentos. Neste episódio
com grande repercussão mundial inclusive, tivemos ações de grupos ligados aos
Direitos Humanos que promoveram, defenderam e divulgaram a ação desastrosa do
governo de São Paulo. Por esta medida que os direitos humanos, ou melhor, os
grupos que defendem os direitos humanos foram associados aos direitos dos
presos.
Defender direitos para todos não
é “passar a mão na cabeça de bandido”. Direitos Humanos é defender princípios,
é reconhecer que o outro (por mais que este também erre) tem direitos e que o
mesmo deva ser responsabilizado pelos seus atos. Existe uma “encrenca” entre
responsabilização e direito.
Outro ponto que trago é que
falamos mais de deveres do que de direitos. Para tanto, só conseguimos refletir
sobre o assunto, quando dialogamos e exercitamos reflexões sobre tais direitos.
Cobramos de crianças e adolescentes responsabilidades (o que esta completamente
certo), mas pouco falamos sobre seus direitos e o sentido de ser respeitado.
Aqui estou me referindo a valores, valores como respeito ao próximo, ao meio
ambiente, à escola enfim respeito à vida.
Fazendo um comparativo, é a mesma
coisa que alguém bater em sua porta todos os dias cobrando que você pague a
conta em dia, mas ninguém nunca bate em sua porta dizendo que você tem direitos
como consumidor. Ora, se já temos dificuldades em saber que temos direitos e
pouco praticamos, imagina em saber nossos deveres.
Sendo assim, proponha uma
reflexão falando sobre começar a trabalhar os direitos com esta geração que não
tem o apoio constante de seus familiares por vários motivos. Neste sentido, a
saúde, educação, assistência social, esporte, cultura, e outros tem um papel
impar ao trabalhar esta reflexão desenvolvendo a competência dos direitos
humanos com crianças e adolescentes. Para tanto não precisamos parar nossas
atividades para trabalharmos o tema como se fosse algo dissociado do dia a dia.
É necessário trabalhar o assunto trazendo exemplos e praticas reais, refletindo
ações e buscando a interação com propostas concretas.
Vale lembrar que crianças,
adolescentes e adultos só afastam e mudam suas concepções sobre o assunto direitos humanos quando ele é
vivenciado, afinal não podemos falar de “lá vem os direitos humanos de novo!”
mas sim desenvolver práticas em sociedade baseada sobre o assunto, enfim é
necessário desenvolver hábitos baseados em direitos humanos.
Para tanto, nossa reflexão e
postura frente ao tema, tem que ser de acolhida e pratica e não algo como uma
coisa ruim, negativa. Quando estamos negando ou criticando o assunto, estamos
de contra partida estimulando (mesmo que sem querer) a violência, a pratica do “pago
na mesma moeda” a intolerância.