Muitos falam " da família!"
Mas qual família?
Aquela que vive na exclusão social, educacional....
Sem condições de lazer, de prazer?
Falamos das famílias da mulher, do homem..
Do migrante, que larga sua cultura, sua cidade, seus hábitos
em busca de um mundo melhor para sí e ao seus filhos.
Que parceria que queremos com as famílias?
A da vinda na reunião,
a da votação
a do lixo jogado no lixeiro, ou da construção?
Nessa neblina de "querer" "parceria" e "família"
Precisamos antes de mais nada.. sentir...
Sentir o outro...
Sentir os outros...
Resignificar nossos sentidos..
Desejos e emoções
Precisamos olhar o outro.. não com a família que vem ou não vem...
mas realmente como parceiros...
Parceiros com sonhos.. sonhos coletivos.. sonhos pequenos..
Sonhos vivenciados...
Sonhos idealizados...
Sonhos.. compartilhados...
Família, vem quando tem carinho.. amor.. e abertura...
enfim.. sonhos...
afinal, é isso que nos move,,,
é isso que precisamos...
é isso que famílias pedem....
Nada de cadastro, nada de filas, nada de usuários..
simplesmente sonhos...
Esse diário é um registro oficial de um educador e suas peripécias ao trabalhar com a comunidade, com adolescentes, ou com profissionais de várias áreas.
sexta-feira, 22 de março de 2013
quinta-feira, 21 de março de 2013
Flores e crianças, jardins e a Doutrina da Proteção Integral
Ah, quão maravilhoso é, em meio
ao uma boa caminhada ou um bate papo agradável com a família nos depararmos com
uma bela paisagem de flores bonitas, harmônicas e cheirosas! Como é gostoso observar
as flores! Como é bom se deslumbrar com a paisagem multicolorida que invade
nossos olhos e alegra nossos corações. Rosa, vermelho, roxo, branco... Nos resta apenas admirar a cena na esperança
que nosso cérebro grave tamanha beleza.
Sinto-me assim quando olhos crianças ou
adolescentes reunidos em grupo. Sobre as crianças, como é bom ver, a forma como
conversam, se empurram, pulam e como resolvem seus problemas em grupo. Já com
os adolescentes, como é bom ver o grupo reunido, falando alto, ora quase “fofocando”,
mas mostrando-se presente para a sociedade. O que tem haver flores, jardins,
crianças, adolescentes e escola?
Muito! É a resposta. O local onde
fica as flores, geralmente, é um lugar que merece alguns cuidados. Claro que
existem flores que necessitam da luz direta do sol para se manter, como a Boca
de Leão, Escovinha, etc. outras não podem estar diretamente a luz solar, pois
atrapalhará o seu desenvolvimento, assim como as Violetas e as Rosas...
Quando falamos de Prioridade
Absoluta para crianças e adolescentes, estamos falando desse mesmo cuidado com
nosso jardim e flores. Para um bom desenvolvimento da infância e da juventude,
é necessário prioridade nas políticas públicas.
Vale lembrar que essa prioridade
não é somente a destinação de verbas (dinheiro), mas projetos governamentais ou
não, que irão de encontro com a
necessidade dos adolescentes ou crianças. É necessário ter vontade política,
estudo e saber a real necessidade de demandas na área da criança e do
adolescente. Geralmente em nossa cultura política, deixamos (porque pensamos
assim) que somente os gestores das secretarias responsáveis para tal política é
responsável para tomar tal iniciativa. Na verdade, quem trabalha ou convive com
crianças e adolescentes pode (não estou falando em dever) sonhar, planejar e
articular idéias para o trabalho ser prioritário na área da criança e do
adolescente. Construir projetos, ações, programas é uma responsabilidade do
adulto e deve ser uma prioridade em seu trabalho. Um jardineiro, não pode
esperar que somente o dono do jardim arrume a estrutura para as flores ou
plantas. O jardineiro também precisa pensar como deve ser esse jardim, afinal é
ele que cuida diretamente das flores. Assim, deve ser o profissional que
trabalha diretamente com as crianças e adolescentes, tanto os gestores como os
profissionais devem ter a sensibilidade de pensar, estudar e principalmente
sonhar ações que possam garantir a Absoluta Prioridade as nossas crianças e
adolescentes. E por que fazer isso?
Se ao mesmo tempo em nosso
jardim, temos flores que necessitam de mais tempo no sol, e temos flores que
precisam de mais cuidados, é a mesma coisa em nossa sociedade com nossas
crianças e nossos adolescentes. Existem crianças e adolescentes que passam por
mais riscos e outras menos riscos de saúde ou sociais. Para aquelas que passam
por mais riscos sociais (flores que não podem ficar diretamente ao sol), se faz
necessário com prioridade absoluta ações para a diminuição de tais riscos. Ao
longo do tempo, fomos entendendo que a prioridade de socorro para a criança e
pro adolescente era necessária. Mas ainda estamos longe de compreendermos que a
formulação de políticas públicas passa por boas idéias, conversas e bons
sonhos. Como fazer algo para bloquear a luz direta do sol, nas flores? Como
termos ações, projetos e programas para adolescentes ou crianças em situação de
risco de saúde, ou risco social?
Se ao pensarmos em idéias para o
bloqueio da passagem do sol nas flores, percebemos que a idéias traz custos
elevados, planejamos tal ação em médio e longo prazo, mas para não deixarmos as
flores morrerem utilizamos alguns recursos (pode ser ideia) para o bloqueio da
passagem do sol, certo?
A mesma ação deve ocorrer para a
área da criança e do adolescente. Mesmo a lei entendendo que a área da criança
e do adolescente é uma prioridade absoluta, inclusive para a destinação
privilegiada de recursos, a não ação do poder público a curto, médio ou longo
prazo, sobre tais recursos, não pode ser colocada em cima de crianças e
adolescentes em situação de risco. Ou seja, não é culpa da violeta se ela ficar
no sol durante uma semana, não é culpa da criança e do adolescente a falta de
política pública porque não existe prioridade no orçamento.
A diferença é que com as flores,
se não temos a melhor estrutura, por falta de recursos, pensamos em idéias
simples, baratas e que dê jeito. Mas na área da criança e do adolescente, a
falta de estrutura ou recursos faz com que jogamos a culpa nos mesmos.
Para terminarmos a parte da
prioridade absoluta, não é a falta de recursos que é o maior problema, pois
dinheiro existe, fontes de financiamento também, e o Brasil vive em um momento
econômico bom. O que existe, de forma ainda tímida, são boas idéias, falta
empreendedorismo social, diálogo de sonhos, trocas de experiências, de debates
e o principal: a preocupação com a vida do outro, principalmente quando este
outro é a criança e o adolescente.
Dizem que para ser um bom
jardineiro é necessário entender da estrutura e manutenção do jardim, entender
das flores ou plantas e terra, saber de paisagismo. De certa forma um
jardineiro não precisa necessariamente ser especialista em tudo isso, mas compreender
o todo é fundamental.
Quando falamos dentro da Doutrina
de Proteção Integral que criança e adolescente é sujeito de direitos, estamos
falando que existem diversas ações para garantir o presente e o futuro dos
mesmos. Alguns direitos são para o presente, outros para o futuro! Mas é esse
conjunto de direitos que irá garantir um bom desenvolvimento de nossas crianças
e adolescentes.
Vale registrar que a única coisa
que não podemos fazer, é retirar esses direitos da criança e do adolescente.
Tal prática seria como a retirada do adubo, sombra, e jardineiro para nosso
jardim! Ou pior, um trator pesado e grande passando por cima de flores
coloridas!
Os direitos da criança e do
adolescente não é de forma alguma uma afronta para os adultos (que também já
foram crianças), mas é a garantia na lei jurídica defendendo a criança e o
adolescente. Alguém (você) é contra a vida e a saúde de alguém? Alguém (você) é
contra a oportunidade de educação e assistência social daqueles que necessitam?
Alguém (você) é contra o respeito, a dignidade das pessoas em seu redor? Contra
o acesso ao esporte e a cultura de crianças e adolescentes?
Trazer direitos jurídicos para as
crianças e para os adolescentes é primeiro garantir a cidadania (cidadania como
direito da pessoa), dar a oportunidade da busca de auto reconhecimento como
cidadão e abrir espaço para a responsabilização que vem pós descoberta de ser
reconhecido como um ser de direito. Cobramos as responsabilidades de crianças e
adolescentes, sem antes trabalhar os direitos enquanto ser cidadão dos
mesmos. É como se cobrássemos de um
girassol, tal colorida e perfume, sem antes trabalhar a terra, dar água, e o
cuidado para o seu desenvolvimento.
Assim com uma semente de girassol
é só semente de girassol, crianças e adolescentes que só escutam que eles têm
que ser responsáveis, sem trabalhar sua cidadania antes não dará o retorno que
queremos, que é a sua responsabilização. No caso do girassol, um lindo girassol
amarelo!
Por isso dos direitos. Cada direito trabalhado com crianças e
adolescentes faz com que existam possibilidades de responsabilização da
cidadania dos mesmos. Como escrevemos anteriormente sobre a flor, que precisa
de terra, adubo, água, sombra ou sol, para desenvolver-se.
E por último, toda a criança e
adolescente é um sujeito em condição peculiar de desenvolvimento. Assim como as
flores se desenvolvem, assim é a criança e o adolescente. Quando estamos
falando de desenvolvimento estamos falando de desenvolvimento físico (assim
como o desabrochar das flores), desenvolvimento psíquico (o cheiro da flor) e o
desenvolvimento moral ( a vista da beleza das flores no jardim).
Ou seja, a condição peculiar em
desenvolvimento significa que o crescimento das crianças e adolescentes acontece
de forma mais rápida, e em pouco espaço de tempo, tanto fisicamente, psicologicamente
ou moralmente.
Outro ponto importante quando
falando de desenvolvimento, esta no fato de que por estarem em tal condição,
tanto a criança e o adolescente podem e devem errar. O erro (seja o mais
simples, ao mais complexo), faz parte da vida, e é nessa parte que se faz
necessário trabalhar os direitos para chegarmos às responsabilidades.
Da mesma forma que um jardineiro
deve ter carinho e atenção com a flor em seu desenvolvimento, devemos (nós)
dedicar carinho, atenção às nossas crianças e adolescentes. Trabalhando seus
direitos, construindo ações como prioridade absoluta e tendo ações de
sensibilidade com pessoas em desenvolvimento é que chegamos a uma sociedade
mais fraterna, sólida e com qualidade de vida.
Neste sentido, a idéia não é a
punição ao erro, mas a socioeducação! Da mesma forma que as flores precisam ser
podadas, ou seja, tirar seus excessos,
assim é com a socioeducação. Podar uma flor, não significa acabar com ela,
deixá-la ficar ao sol durante uma semana porque cresceu demais, isso é punir a
flor!
Podar representa cuidar. Só
podamos, porque a flor se desenvolveu (criança em desenvolvimento). Se
desenvolver é porque cuidamos, (garantia de direitos), e se cuidamos é porque
tivemos estrutura e principalmente vontade para tal (prioridade absoluta).
Queremos uma sociedade da mesma
forma que queremos um jardim, lindo, florido, colorido e com bastante perfume. Com
jovens e crianças brincando e se auto conhecendo, tendo clarezas de seus
direitos e por consequência tendo maior sensibilidade com os direitos das
outras pessoas, trazendo o perfume do imaginário, dos sonhos e da alegria. Essa
é a melhor maneira para termos uma sociedade mais harmônica, assim como um belo
jardim repleto de flores!
Guilherme Cechelero
Cientista Social, educador
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